quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Das intermináveis reflexões de fim de ano...

E mais um ano vai chegando ao fim. Foi um bom ano. Muitas e drásticas mudanças. Um grande aperto financeiro. Amigos que se mudaram e deixaram um convívio vazio. Uma nova  e cansativa rotina. E sim, foi um bom, diria até ótimo, ano!
Enfrentei e venci desafios, acreditei na mudança, fechei ciclos longuíssimos e cansativos, fiz 35 anos e vi diariamente os resultados desse exercício de ser uma pessoa melhor. A cada dia repensei meu consumo, minhas necessidades, meus pré-julgamentos e pré-conceitos (tentando cada vez mais me livrar de ambos), meu conceito de felicidade, meu respeito pelo outro, pelas diferenças do outro, me livrei cada dia mais da importância da opinião alheia sobre mim, meu corpo, meus valores. Do outro só desejo o respeito com plena convicção que tenho me esforçado e conseguido, quase sempre, retribui-lo.
A verdade é que só tenho a agradecer por tudo que aconteceu no ano de 2013, mas ainda assim, encerro esse ano com uma certa tristeza por todos aqueles que nada mudaram.
Por todos os padrões e ciclos de desrespeito, e sofrimento, e inversão de valores, e consumismo excessivo, e desigualdade que permanecem...eu fico triste por isso. Fico triste porque isso tudo ainda é muito próximo de mim, porque ouço o discurso machista e abusivo e patriarcal e excessivamente capitalista em todos os lugares, na minha casa, no bar da esquina, na roda de amigos...todo ano, as mesmas pessoas reunidas, as mesmas "brigas", pelos mesmos motivos, os mesmos constrangimentos, a mesma falta de respeito...todo ano, todo ano, todo ano...e as pessoas reclamam que nada muda, e mais uma vez passam o ano todo fazendo a mesma coisa agindo da mesma maneira e esperando que no final desse ciclo, eternamente repetitivo e alimentado com o mesmo padrão de comportamento e a mesma energia viciada em sofrimento, algo seja diferente. Jura? Fazer sempre as mesmas coisas do mesmo jeito e esperar um resultado diferente, para Einstein essa era a definição de loucura, e pra mim, ele nunca esteve tão certo.
Não é fácil descobrir o que te faz feliz, não é fácil descobrir que o que te faz feliz está na contramão do que a sociedade e a mídia pregam como certo e necessário. Mas vale tanto à pena...e é isso que eu desejo a todos para o próximo ano: Coragem!!! Coragem para descobrir o que te faz feliz mesmo que não seja o que esperam de você. Coragem pra mudar de vida, coragem pra ser mais leve, para olhar em volta e ver que existe um mundo além do seu umbigo e das suas vontades, coragem para entender que é mais gratificante ajudar a resolver um problema sendo parte ativa da solução.
Um ótimo novo ano pra todos nós!

domingo, 22 de dezembro de 2013

Uma coisa é uma coisa. Outra coisa é outra coisa!


Essa semana assisti a dois vídeos nos quais o tema central é a empatia.
Achei que ambos mereciam ser compartilhados.
O primeiro é uma animação, bem explicativa sobre o que, afinal de contas, é empatia.
O video foi criado pela Royal Society of Arts e faz parte de uma nova série chamada "espresso shots for the mind" (Doses de espresso para a mente, só pelo nome já gostei!). O video acima é narrado pela Dra. Brené Brown, professora pesquisadora da University of Houston Graduate College of Social Work, e nos dá alguns "insights" sobre as diferenças entre empatia e simpatia, explicando por que a empatia é muito mais significativa.
Aproveitei e traduzi abaixo a narração, assim ninguém pode dizer que não entendeu! (apesar de estar literalmente desenhado e animado!)


"Então o que é empatia e porque é muito diferente de simpatia?
Empatia estabelece uma conexão e simpatia leva à desconexão.
Empatia, é muito interessante, Theresa Wiseman é uma acadêmica da área de enfermagem que estudou profissões, as mais variadas delas, onde a empatia é relevante e concluiu que há 4 qualidades inerentes à empatia,  mudança de perspectiva, a capacidade de enxergar a situação a partir da perspectiva do outro e  aceitar essa perspectiva como real com total ausência de julgamentos (o que não é fácil quando se gosta disso tanto quanto a maioria das pessoas, rs!) e por fim reconhecer as emoções e sentimentos do outro e comunicar isso. Empatia é sentir COM a pessoa.
Para mim, sempre pensei empatia como se fosse esse espaço secreto onde quando alguém cai em um buraco escuro e grita lá do fundo: Eu estou preso, está escuro, estou sobrecarregado, e então olhamos e dizemos:  Hey!-descemos até lá- Eu sei como é aqui embaixo e você não está sozinho.
Simpatia é: Oh! está ruim né? Ahn...não...você quer um sanduíche?
Empatia é uma escolha! E é uma escolha vulnerável. Porque para se conectar com o outro você precisa se conectar com algo em si mesmo que conhece aquele sentimento.
Raramente, se não nunca, uma resposta empática começa com "pelo menos". E fazemos isso o tempo todo, e sabe por que? Quando alguém que compartilha algo conosco, algo que é inacreditavelmente doloroso, tentamos "ver o lado bom disso", amenizar as coisas. Então, se alguém diz: eu tive um aborto. Pelo menos vc sabe que pode engravidar. Meu casamento está desmoronando. Pelo menos, você tem um casamento. Meu filho John será expulso da escola. Pelo menos (a irmã) Sarah é uma aluna nota 10.
Uma das coisas que fazemos algumas vezes ao enfrentar conversas difíceis é tentar melhorar as coisas se eu compartilhar algo com vc que é muito doloroso, eu prefiro que vc diga " eu nem mesmo sei o que lhe dizer agora eu só estou muito feliz que você tenha me contado". Porque, a verdade é, raramente uma resposta poderá fazer as coisas ficarem melhor, o que realmente faz algo melhorar é a conexão.

O segundo video, inspirado no livro infantil "Quando nasce um monstro",  foi criado pela Ponto de Criação  para o projeto Reclame Multishow por Um mundo melhor. Entitulado "Mimimi", a ideia é mostrar que melhorar o mundo não é uma utopia e sim uma sucessão de pequenas escolhas. O video mostra de uma maneira divertida como a empatia, ou melhor, as pessoas que a possuem e praticam no dia a dia, podem sim, mudar o mundo!
Não consegui carregá-lo, mas você pode acessá-lo aqui!

E pra encerrar, desejo que no ano que entra possamos ser muito mais empáticos do que apenas simpáticos com o mundo à nossa volta!






sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Das pequenas escolhas, inconscientes, do dia a dia

Domingo à noite, mercados fechados, percebi que tinha acabado meu café (oi? como assim? é o velho ditado, "casa de ferreiro...") nessa mesma noite dei acolhida ao meu amigo amado, Juliano Codorna, em rápida passagem por terras caiçaras, que além de trazer uma dose homeopática de presença contra saudade (Ele, a companheira, minha amiga e comadre de alma, Bianca mais o "nosso" filho Rudá, se mudaram de Cananeia há alguns meses, para minha tristeza) trouxe também presentes pra mim, mandados e devidos pela Bi, entre eles uma dose única de café 100% arábica, orgânico, vindo direto de terras botucatuenses, pense na alegria!!!! Segunda, de manhã, feliz que o ponto alto do meu processo de acordar seria tomar uma café incrível, mandado com todo amor, preparo minha moca com aquele único pó de café especial até perceber que o tempo da moca estava passando do normal...fui xeretar abri a tampa e antes que eu pudesse piscar a cafeteira explodiu na minha cara um jato de vapor e pó de café (100% arabica, orgânico...que dó). Na minha cara, na parede da cozinha até atrás da geladeira, no tapete, nas cortinas, na parede do lado oposto...caos!! E é justamente nesse ponto que entram as pequenas escolhas do dia a dia...não vou nem entrar no mérito de que, graças a ....................... (complete aqui o nome da sua divindade de devoção) eu não tive nenhum tipo de queimadura, afinal quem sabe o mínimo de como funciona uma moca, sabe que estou falando de vapor de água em alta pressão, o fato é, que o acontecido tinha tudo pra acabar com o dia que nem havia começado...lavada de café, cozinha imunda, numa segunda de manhã? Mau-humor na certa né? Não, não é!! Ao olhar minha cara no espelho não pude deixar de rir de mim mesma, da cena toda. No banho, vi que tinha pó de café até na orelha, e isso não tinha como ser nada além de engraçado...quando comecei a limpar tudo pensei na reação que teria anos atrás...certamente a opção do mau-humor e um dia azedo pra começar a semana, e fiquei  ainda mais feliz, e grata, não só por não ter acontecido nada mais grave mais principalmente por perceber que o esforço diário, ao longo desses anos, tem surtido o efeito desejado que é ver essas pequenas escolhas, inconscientes e diárias se direcionarem mais para a capacidade de rir de si mesma e dos imprevistos, do que para o mau-humor e infelicidade. No final de tudo, chegar atrasada ao trabalho rindo do que aconteceu, e perceber que inconscientemente escolho ser feliz é uma vitória e tanto nessa nossa vida imprevisível e caótica!

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Um convite a escrever sobre mim mesma...ou um bom exercício de auto-avaliação


Esse dias gostei de algo que  minha amiga Tati Baccini escreveu e me soou como um bom exercício de auto-avaliação...logo depois ela me propôs que fizesse o mesmo e escrevesse 5 "coisas" sobre mim mesma...minha primeira reação foi: nããã...besteira, não vou fazer...mas aí isso ficou na minha cabeça. A minha segunda reação foi não me julgar capaz de fazê-lo, de olhar pra mim mesma de forma a enxergar as coisas legais e as nem tanto...A terceira reação é esta, tentar.
5 coisas sobre mim que talvez nem eu saiba e podem ser mais que 5:


1-Odeio pisar de meia no chão molhado

2-Eu acredito, de verdade, que sou uma boa amiga...sei que já pisei na bola, e já magoei pessoas que amo, mas sei também que isso faz parte do aprendizado, e é por cada um dos meus amigos, dessa família linda e eclética que me acompanha pela vida, que eu tento todo dia ser uma pessoa melhor

3- Ouvir como justificativa um "porque ele é homem" vai me fazer querer arremessar na cabeça da pessoa qualquer objeto que eu tenha à mão

4-Adoro abraço, principalmente os longos e apertados

5- Nunca quis ter filhos, mas adoro conviver com os filhos dos meus amigos, e sem duvida acho meu sobrinho a criança mais linda do mundo.

6- Não sou muito apegada à família...é certo que os amo, e quero vê-los felizes e bem, mas os momentos que passo com eles devem ser por vontade verdadeira de estar junto, preciso sentir que minha presença é querida, acolhida...nunca por obrigação social...

7- Já que toquei no quesito obrigação social...a pauta é extensa, rs! Não acredito em Natal, dia das mães, dos pais, dos namorados...acho que tudo não passa de uma grande balela, desculpa para estimular um consumismo que também passou do limite e não me convence, mas pra quem gosta e vive esse estilo de vida...ok também, somo diferentes e sempre vou tentar respeitar aquilo que faz de vc uma pessoa diferente de mim...

8- Não faço (quase) nada que eu não queira, não me importa (na maior parte do tempo, afinal esse é um exercício diário) o que pensam ou esperam de mim em termos de imagem, grana ou comportamento, principalmente porque o que a sociedade define como padrões aceitáveis de sucesso, beleza, família não condizem com a linda diversidade que faz as pessoas verdadeiramente interessantes e condizem menos ainda com o meu conceito de felicidade. Eu não vou cumprir com expectativas alheias...

9- Por falar em expectativas, tento não criá-las, falho sempre nas tentativas, e com frequência sofro por antecipação

10- Adoro ter razão e posso ser insuportável nesses casos

11-Nunca tive um relacionamento sério. A criatura com quem convivo diariamente a mais tempo na minha vida e que amo com uma pureza e intensidade de explodir o coração é meu cachorro.

12 – Um monstro autoritário vive dentro de mim e é um trabalho continuo mantê-lo sob controle

13 – Em um período da vida, me vi afastando de perto de mim pessoas importantes por conta do meu comportamento, mau-humor...procurei ajuda, fiz terapia, gostaria de continuar fazendo, e acredito de coração que todo ser humano deveria passar por esse processo.

14 –Gosto (muito!) de sexo e não tenho vergonha de assumir. E pra gostar de verdade penso que é essencial se conhecer primeiro.

15- Mudar de ideia é um dos grandes baratos de ser gente. Tudo que é muito rígido, uma hora ou outra quebra. Prefiro, envergar, envergar, mudar de lado, de cabeça, de opinião e continuar por aqui...além do que acho que é um reflexo do eterno aprendizado que se vive...

16 – Tento ao máximo, muito mesmo, não julgar ninguém pela aparência, gosto, estilo...nem sempre consigo e quando não consigo me recrimino por um bom tempo...

17 – das coisas que me envergonham sobre mim: me irrita gente burra, (eu sei, eu sei, isso é horrível, desculpa, mas me irrita)...talvez porque eu me julgue muito inteligente...

18 - O elogio que mais me deixa feliz no mundo são àqueles relativos à minha comida!

19 - Pouca gente sabe, mas eu já "cantei" no Balão Mágico.

19 -E pra encerrar, pois a pessoa deveria pensar em 5 coisas e acabou mais que triplicando: Não espero que concordem ou compartilhem da minha visão de mundo, mas espero sim, que a respeitem.

terça-feira, 19 de março de 2013

Agora já deu

Ela chegou sem anuncio, há exatos 6 dias. Foi recebida com alegria, quase como uma benção, se derramando sobre nós e aliviando o sol devastador e o calor surreal que vinha nos castigando. Com ela, veio também a brisa fresca, uma leve queda da temperatura e o convite à calça de moleton, meia no pé, sopa e ócio.
Nos primeiro dias permiti que a preguiça fosse convidada a entrar, Ah! que alegria! Cancelei a agenda, organizei a lista de filmes, abri o sofá...No segundo dia ela invadiu a minha cozinha, se infiltrando pelas brechas,  afetando  o conforto, se metendo onde não devia...No terceiro dia, exercitei a paciência, ignorei sua presença  e me aventurei à rua...no quarto, ainda fingindo sua inexistência, fui pra cozinha, fiz pão de queijo (de guarda chuva) sai de casa e almocei com amigos...No quinto dia a vida teve que voltar ao ritmo. Ir ao banco, ao contador, ao mercado, descobrir que não importa quão grande seja um guardassol ( é assim na nova regra?) ele não é tão eficaz quanto um guarda-chuva, não ser mais capaz de ignorar a chuva dentro da cozinha,  perceber que não importa o quanto vc tente manter a casa limpa e agradável  com essa chuva, tudo vai ficar molhado, mofado e fedido, principalmente o cachorro!!!
E hoje, depois de 6 dias de cozinha alagada, chuva incessante e uma previsão nada animadora para a semana eu concluo: se é pra ser 8 ou 80, pode devolver o solzão, S. Pedro!!! Mais facil se resolver com a praia, a casa seca e várias duchas ao dia pra refrescar!

quinta-feira, 7 de março de 2013

Ainda sobre o tempo...extrapolando para a relatividade da vida...

Tenho lido o texto que postei uns dias atrás em doses homeopáticas, dividido em sete dias consecutivos na minha agenda anual (a da Tribo, que amo!!! vai lá: www.livrodatribo.com.br/). E cada dia me faz pensar mais um pouco...ontem juntando tudo e lendo de uma tacada só aqui no blog, fiquei ainda mais reflexiva...
Se me pareceu tão claro que a percepção policrônica do tempo me soa tão mais leve, feliz, agradável  por que então,  carrego essa intolerância em relação à horários e atrasos? Sou do tipo que, se a reunião está marcada pras 9h e as 9h30 não começou tenho ganas de ir embora. Meu argumento pra essa inflexibilidade? O valor do tempo. E pensando sobre isso, conclui que sou uma contradição...caminho em cima do muro entre o tempo linear e o natural.
Por exemplo: até o dia de hoje, o que tenho acreditado é que aquele que marca um horário e não cumpre não tem respeito pelo tempo do outro, acredita que o seu próprio tempo é mais valioso e portanto, não há problema em deixar alguém esperando...por outro lado, há anos optei por trabalhar de forma a não ter horários fixos, cumprindo as metas do dia de acordo com a tarefa para qual me sinto mais disposta no momento- é claro que existem prazos a serem cumpridos, e eu costumo fazê-lo, mas muitas vezes protelar é uma arte.
Também costumo dizer aos meus amigos que ainda vivem na agitação das grandes cidades, que o tempo que economizo no dia a dia, para me deslocar de um lugar a outro, por exemplo, de bike, sem nenhum tipo de trânsito (aqui em Cananéia sequer tem semáforo!) pode ser aproveitado de "n" outras formas, e isso me faz mais feliz. Mas, quando esses mesmos amigos estão aqui nos finais de semana e desprendem-se dos seus relógios, ainda me irrito quando um dele me diz: "ah, já to saindo" , e ao invés de estar efetivamente saindo a caminho de me encontrar, está naturalmente saindo, como um processo e não um ato, um processo que implica, sei lá...escovar os dentes, trocar de roupa, por o cachorro pra fora, pegar a bike, fechar a casa...e sair.
E nessa corda bamba entre contabilizar ou vivenciar o tempo, cá estou. Se bastasse escolher entre uma percepção ou outra, resposta fácil: fico com o tempo, biólogico, natural - o que me diz porque ainda sofro com o horário de verão. Porém, acredito que não é possível uma única escolha entre um ou outro. São várias delas, ao longo do dia, ao longo da vida, um exercício diário de optar por aquilo que nos faz mais feliz, mais leves e tranquilos.
Escolher trabalhar com o que se gosta, percorrer os caminhos mais bonitos ao invés dos mais curtos, preparar, no seu tempo, sua refeições e saboreá-la com calma e prazer, ao invés de comer um sanduíche rápido no boteco da esquina...
Escolher tornar-se consciente da real relatividade do tempo e aproveitar cada minuto, que passa como milésimos de segundo, quando estamos felizes, ao invés de sofrer com esse mesmo minuto, que parece uma hora, fazendo algo que não gostamos.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Da relatividade do tempo e sua percepção policrônica...não linear...prefiro assim


O TEMPO DAS SOCIEDADES - por Regina Garbellini e Décio de Mello

O cara na sua frente, na fila, começa a bater papo com o caixa sobre uma visita à família, sem a menor pressa de pagar. Você marca com um amigo às oito e ele chega às dez, dizendo que o papo estava bom e ele não quis interromper. Seu companheiro de trabalho ficou de fazer um relatório mês passado, mas não parece muito preocupado com o atraso. Esse tipo de coisa, na nossa forma linear de ver o tempo, vai acabar em ressentimento, se não virar uma briga logo de cara. Mas em outras sociedades ( e na nossa, há muito tempo atrás) estes seriam padrões de comportamentos naturais.
Em sociedades onde o tempo é policrônico, uma transação comercial, antes de tudo, é uma relação entre duas pessoas: se você pagar e sair, pode ser considerado mal-educado. O correto seria bater um bom papo, perguntar sobre a família, tomar um cafezinho e, só então, pagar a sua caixa de fósforos e sair. Esta prioridade da relação interpessoal nas atividades humanas não é a única diferença entre o nosso uso do tempo e o deles. Os horários também não são muito levados a sério.
Já que o importante é a relação entre as pessoas, qual o barato de interromper um bom papo só pra chegar na hora do próximo compromisso? Mesmo terminar algo que começamos ou nos propusemos a fazer, para o tempo policrônico, não tem toda a urgência que tem para nós: nessas sociedades uma pessoa pode começar várias atividades e não se sentirá pressionada a concluir uma antes de iniciar a outra. A noção de encerramento, de conclusão de uma coisa antes do início de outra, é característica do tempo linear, de nossa forma de ver o tempo. Pro pessoal policrônico, as coisas levam o tempo que levam - e terminam quando terminarem.
Dá até uma certa aflição, não? Dá pra imaginar? Toda uma relação social acontecendo assim, colocando no tempo as atividades do dia de acordo com um critério que não tem nada a ver com um resultado objetivo, tão importante para nós, e sim com qualidade subjetiva da relação com o outro ou com o que se está fazendo...Do tipo " está chato, fica pra depois! ; "está legal, danem-se os horários!". Mas apesar da nossa estranheza, é assim mesmo que o tempo é sentido e vivido pelas pessoas na maior parte das culturas não industriais. Para eles, o tempo está associado à biologia, a um curso natural das coisas que não têm exatamente um objetivo, além, é claro, de comer, divertir-se e ter alguma segurança e afeto.
Quando a atividade principal do homem era caçar, colher plantas ou cultivá-las, havia uma profunda relação com os ciclos de tempo da natureza. Era imprescindível conhecer as estações, o comportamento sazonal de animais e plantas. A sociedade industrial ( e, antes dela, o mercantilismo) foi preparando as pessoas para um conceito diferente de tempo. O velho Marx anda caído, em termos de popularidade, mas é dele a constatação de que o valor dos produtos tem a ver com o tempo empregado em sua feitura.
Se um artesão leva um mês para fazer uma cadeira, vai ter que cobrar por ela umas vinte vezes mais do que poderia cobrar se fizesse uma cadeira por dia. E se ele faz uma por mês e o vizinho dele faz uma por dia, ele tá a perigo, pois dificilmente vai conseguir vender a sua - o outro pode vendê-las muito mais barato. A expressão tempo é dinheiro não é só efeito de retórica: na teoria econômica marxista, usada inclusive por muitos administradores contemporâneos, tempo é mesmo uma valor fundamental em termos econômicos.
Daí a gente, quase inconscientemente  acha que fazer algo mais rápido será sempre melhor, porque será possível fazer mais. O confronto com o tempo policrônico fica claro no exemplo do português recém-chegado à terrinha: ao dar o machado para o índio, imagina que ele vai cortar muito mais madeira, pois o aço é uma revolução técnica em relação ao machado de pedra dos tupiniquins. E surpreso, constata que o índio corta a mesma madeira em um quinto do tempo - e vai passear.
Pouco preocupado com o progresso dá pra entender porque era impossível escravizar o índio ou convencê-lo a trabalhar - pelo menos naquilo que entendemos por trabalho. Para ele era preferível morrer de tristeza a executar uma sucessão de tarefas que tinham que começar, terminar, e que não tinham nada a ver com a sua vida. Não é incrível que chamem, em Antropologia, a estrutura social deles de sociedade primitiva...?

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Mudanças à vista!!

É difícil pensar em mudanças apenas com otimismo. Todas elas, sejam de espaços físicos, paradigmas, trabalho, são custosas. Gastamos tempo, energia, muita cuca fazendo planos...e nem todas acabam como era esperado mas, todas sem exceção, envolvem um processo único de desapego e esperança.
Mais uma vez na vida, beirando os 35 anos, vivo esse processo. E ao contrário dos outros momentos em que tive que encará-la, dessa vez está sendo um pouco mais leve, apesar da mudança ser bem maior. é claro que tem um bocado de medo à espreita, e uma insegurança com o " que há de vir" que insiste em ficar por perto, mas ao mesmo tempo ela vem acompanhada da realização de um sonho antigo e é impossível que isso seja ruim!
A parte chata é assumir -sem nenhum tipo de arrependimento que fique claro!- que aquilo em que acreditei e pelo qual lutei nos últimos 7 ou 8 anos, deixou de me tocar. Perdi o amor pela causa, mas levo um aprendizado profissional e pessoal enorme. Mas apesar da tristeza que me causa perceber o que não me serve mais, também traz uma nova energia diante da consciência de que não preciso ficar sentada esperando algo remotamente parecido aparecer na minha vida pra continuar caminhando, eu posso simplesmente MUDAR DE VIDA!! E daqui pra frente ser e fazer qualquer coisa que eu desejar. Tudo bem, é muito mais fácil falar do que fazer, mas a porta está aí, aberta na minha frente, só preciso levantar a bunda da cadeira e sair. Sair pra um mundo de possibilidades!

sábado, 19 de janeiro de 2013

Ainda dá tempo de falar sobre as tais resoluções para o novo ano?

Que em 2013 eu consiga me importar cada vez menos com os pré-conceitos de quem se acha no direito de julgar as escolhas alheias.
Que eu tenha cada vez mais coragem de viver de acordo com as minhas escolhas e os meus valores.
Que esse valores cresçam cada vez mais embasados no respeito ao outro.
Que eu tenha tolerância e paciência com aqueles que pensam, escolhem e agem diferente de mim, sem julgamentos ou críticas, mas com amor e respeito à essas diferenças...
E que assim sendo eu possa viver em paz, no caminho que escolhi, sem nunca causar mal a ninguém.

Ah!! E se não for pedir muito, Ano Novo, sem ninguém palpitando na minha vida.

E ao amigos amados, companheiros de jornada,todo meu amor e desejo de que continuemos caminhando juntos por essa vida, por muitos e muitos anos...