terça-feira, 19 de março de 2013

Agora já deu

Ela chegou sem anuncio, há exatos 6 dias. Foi recebida com alegria, quase como uma benção, se derramando sobre nós e aliviando o sol devastador e o calor surreal que vinha nos castigando. Com ela, veio também a brisa fresca, uma leve queda da temperatura e o convite à calça de moleton, meia no pé, sopa e ócio.
Nos primeiro dias permiti que a preguiça fosse convidada a entrar, Ah! que alegria! Cancelei a agenda, organizei a lista de filmes, abri o sofá...No segundo dia ela invadiu a minha cozinha, se infiltrando pelas brechas,  afetando  o conforto, se metendo onde não devia...No terceiro dia, exercitei a paciência, ignorei sua presença  e me aventurei à rua...no quarto, ainda fingindo sua inexistência, fui pra cozinha, fiz pão de queijo (de guarda chuva) sai de casa e almocei com amigos...No quinto dia a vida teve que voltar ao ritmo. Ir ao banco, ao contador, ao mercado, descobrir que não importa quão grande seja um guardassol ( é assim na nova regra?) ele não é tão eficaz quanto um guarda-chuva, não ser mais capaz de ignorar a chuva dentro da cozinha,  perceber que não importa o quanto vc tente manter a casa limpa e agradável  com essa chuva, tudo vai ficar molhado, mofado e fedido, principalmente o cachorro!!!
E hoje, depois de 6 dias de cozinha alagada, chuva incessante e uma previsão nada animadora para a semana eu concluo: se é pra ser 8 ou 80, pode devolver o solzão, S. Pedro!!! Mais facil se resolver com a praia, a casa seca e várias duchas ao dia pra refrescar!

quinta-feira, 7 de março de 2013

Ainda sobre o tempo...extrapolando para a relatividade da vida...

Tenho lido o texto que postei uns dias atrás em doses homeopáticas, dividido em sete dias consecutivos na minha agenda anual (a da Tribo, que amo!!! vai lá: www.livrodatribo.com.br/). E cada dia me faz pensar mais um pouco...ontem juntando tudo e lendo de uma tacada só aqui no blog, fiquei ainda mais reflexiva...
Se me pareceu tão claro que a percepção policrônica do tempo me soa tão mais leve, feliz, agradável  por que então,  carrego essa intolerância em relação à horários e atrasos? Sou do tipo que, se a reunião está marcada pras 9h e as 9h30 não começou tenho ganas de ir embora. Meu argumento pra essa inflexibilidade? O valor do tempo. E pensando sobre isso, conclui que sou uma contradição...caminho em cima do muro entre o tempo linear e o natural.
Por exemplo: até o dia de hoje, o que tenho acreditado é que aquele que marca um horário e não cumpre não tem respeito pelo tempo do outro, acredita que o seu próprio tempo é mais valioso e portanto, não há problema em deixar alguém esperando...por outro lado, há anos optei por trabalhar de forma a não ter horários fixos, cumprindo as metas do dia de acordo com a tarefa para qual me sinto mais disposta no momento- é claro que existem prazos a serem cumpridos, e eu costumo fazê-lo, mas muitas vezes protelar é uma arte.
Também costumo dizer aos meus amigos que ainda vivem na agitação das grandes cidades, que o tempo que economizo no dia a dia, para me deslocar de um lugar a outro, por exemplo, de bike, sem nenhum tipo de trânsito (aqui em Cananéia sequer tem semáforo!) pode ser aproveitado de "n" outras formas, e isso me faz mais feliz. Mas, quando esses mesmos amigos estão aqui nos finais de semana e desprendem-se dos seus relógios, ainda me irrito quando um dele me diz: "ah, já to saindo" , e ao invés de estar efetivamente saindo a caminho de me encontrar, está naturalmente saindo, como um processo e não um ato, um processo que implica, sei lá...escovar os dentes, trocar de roupa, por o cachorro pra fora, pegar a bike, fechar a casa...e sair.
E nessa corda bamba entre contabilizar ou vivenciar o tempo, cá estou. Se bastasse escolher entre uma percepção ou outra, resposta fácil: fico com o tempo, biólogico, natural - o que me diz porque ainda sofro com o horário de verão. Porém, acredito que não é possível uma única escolha entre um ou outro. São várias delas, ao longo do dia, ao longo da vida, um exercício diário de optar por aquilo que nos faz mais feliz, mais leves e tranquilos.
Escolher trabalhar com o que se gosta, percorrer os caminhos mais bonitos ao invés dos mais curtos, preparar, no seu tempo, sua refeições e saboreá-la com calma e prazer, ao invés de comer um sanduíche rápido no boteco da esquina...
Escolher tornar-se consciente da real relatividade do tempo e aproveitar cada minuto, que passa como milésimos de segundo, quando estamos felizes, ao invés de sofrer com esse mesmo minuto, que parece uma hora, fazendo algo que não gostamos.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Da relatividade do tempo e sua percepção policrônica...não linear...prefiro assim


O TEMPO DAS SOCIEDADES - por Regina Garbellini e Décio de Mello

O cara na sua frente, na fila, começa a bater papo com o caixa sobre uma visita à família, sem a menor pressa de pagar. Você marca com um amigo às oito e ele chega às dez, dizendo que o papo estava bom e ele não quis interromper. Seu companheiro de trabalho ficou de fazer um relatório mês passado, mas não parece muito preocupado com o atraso. Esse tipo de coisa, na nossa forma linear de ver o tempo, vai acabar em ressentimento, se não virar uma briga logo de cara. Mas em outras sociedades ( e na nossa, há muito tempo atrás) estes seriam padrões de comportamentos naturais.
Em sociedades onde o tempo é policrônico, uma transação comercial, antes de tudo, é uma relação entre duas pessoas: se você pagar e sair, pode ser considerado mal-educado. O correto seria bater um bom papo, perguntar sobre a família, tomar um cafezinho e, só então, pagar a sua caixa de fósforos e sair. Esta prioridade da relação interpessoal nas atividades humanas não é a única diferença entre o nosso uso do tempo e o deles. Os horários também não são muito levados a sério.
Já que o importante é a relação entre as pessoas, qual o barato de interromper um bom papo só pra chegar na hora do próximo compromisso? Mesmo terminar algo que começamos ou nos propusemos a fazer, para o tempo policrônico, não tem toda a urgência que tem para nós: nessas sociedades uma pessoa pode começar várias atividades e não se sentirá pressionada a concluir uma antes de iniciar a outra. A noção de encerramento, de conclusão de uma coisa antes do início de outra, é característica do tempo linear, de nossa forma de ver o tempo. Pro pessoal policrônico, as coisas levam o tempo que levam - e terminam quando terminarem.
Dá até uma certa aflição, não? Dá pra imaginar? Toda uma relação social acontecendo assim, colocando no tempo as atividades do dia de acordo com um critério que não tem nada a ver com um resultado objetivo, tão importante para nós, e sim com qualidade subjetiva da relação com o outro ou com o que se está fazendo...Do tipo " está chato, fica pra depois! ; "está legal, danem-se os horários!". Mas apesar da nossa estranheza, é assim mesmo que o tempo é sentido e vivido pelas pessoas na maior parte das culturas não industriais. Para eles, o tempo está associado à biologia, a um curso natural das coisas que não têm exatamente um objetivo, além, é claro, de comer, divertir-se e ter alguma segurança e afeto.
Quando a atividade principal do homem era caçar, colher plantas ou cultivá-las, havia uma profunda relação com os ciclos de tempo da natureza. Era imprescindível conhecer as estações, o comportamento sazonal de animais e plantas. A sociedade industrial ( e, antes dela, o mercantilismo) foi preparando as pessoas para um conceito diferente de tempo. O velho Marx anda caído, em termos de popularidade, mas é dele a constatação de que o valor dos produtos tem a ver com o tempo empregado em sua feitura.
Se um artesão leva um mês para fazer uma cadeira, vai ter que cobrar por ela umas vinte vezes mais do que poderia cobrar se fizesse uma cadeira por dia. E se ele faz uma por mês e o vizinho dele faz uma por dia, ele tá a perigo, pois dificilmente vai conseguir vender a sua - o outro pode vendê-las muito mais barato. A expressão tempo é dinheiro não é só efeito de retórica: na teoria econômica marxista, usada inclusive por muitos administradores contemporâneos, tempo é mesmo uma valor fundamental em termos econômicos.
Daí a gente, quase inconscientemente  acha que fazer algo mais rápido será sempre melhor, porque será possível fazer mais. O confronto com o tempo policrônico fica claro no exemplo do português recém-chegado à terrinha: ao dar o machado para o índio, imagina que ele vai cortar muito mais madeira, pois o aço é uma revolução técnica em relação ao machado de pedra dos tupiniquins. E surpreso, constata que o índio corta a mesma madeira em um quinto do tempo - e vai passear.
Pouco preocupado com o progresso dá pra entender porque era impossível escravizar o índio ou convencê-lo a trabalhar - pelo menos naquilo que entendemos por trabalho. Para ele era preferível morrer de tristeza a executar uma sucessão de tarefas que tinham que começar, terminar, e que não tinham nada a ver com a sua vida. Não é incrível que chamem, em Antropologia, a estrutura social deles de sociedade primitiva...?