domingo, 17 de janeiro de 2016

Do discenirmento: nem toda relação é abusiva, apesar dos corações partidos.

Eu, com muita frequência escrevo, nos mais diversos contextos, sobre a importância de olharmos para dentro de nós e reconhecermos nossas responsabilidades perante tudo aquilo que nos acontece na vida. Vida essa feita de escolhas, escolhas essas que carregam conseqüências, consequências essas que nos cabem assumir. Mais que assumir aprender com elas, ao invés de simplesmente transferir a responsabilidade e a culpa para o outro, para fora.
Tenho acompanhado os relatos dos movimentos virtuais como #meuprimeiroassedio, #meuamigosecreto e mais recentemente o #naopoetizeomachismo, é assustador o assédio e a violência que sofremos diariamente. Reconheço e apoio a validade desses movimentos mas também me preocupo com o mau uso dessa mobilização, tão importante para dar voz as mulheres vitimadas pelo machismo nosso de cada dia.
Falo em mau uso, porque alguns relatos que li recentemente me parecem não mais do que algum tipo de vingança de mulheres que apenas tiveram suas relações frustradas e seu corações partidos em relacionamentos que não tiveram nada de abusivos...apenas não deram certo.
Relações acabam. Pessoas traem. Amor acaba. Nada dura pra sempre. E em toda história entre duas pessoas, ambas carregam suas responsabilidade na hora de fazer dar certo ou acabar de vez. Parece-me muito desonesto se utilizar da validade dessas mobilizações tão importantes para atacar um ex-parceiro.
Simplesmente assumir que qualquer relação que não deu certo é resultado de abuso ou machismo, desculpa...não cola.
Isso é generalização. Generalizações são burras.
Seria assumir que todos os homens são machistas, abusadores e violentos e todas as mulheres submissas, manipuláveis e incapazes de fazerem suas escolhas.
Encarar viver uma relação é quase um ato de fé, principalmente no inicio. Você não conhece profundamente a pessoa e tem a escolha de confiar ou não que essa pessoa e essa relação podem funcionar. Comunicação é a chave. Honesta e direta. Mas ainda assim pode não ser o suficiente. Porque muitas vezes ouvimos só aquilo que queremos, criamos ilusões e expectativas e quando por fim nos frustramos, a culpa é sempre do outro, que nos enganou.
Mas será que é mesmo?
Exemplo rápido1: O cara insiste em transar sem camisinha. Diz que é só com vc que ele quer assim. Você até sabe que ele sai com outras pessoas, não é um relacionamento exclusivo...você topa mesmo assim. Quando o relacionamento acaba, sai dizendo por ai que ele é um filho da puta, te enganou que não saia com mais ninguém, te convenceu a trepar sem preservativo, blá, blá, blá...desse contexto todo, o que realmente interessa é que você sempre teve a escolha de dizer não. Não transo sem camisinha. Ponto. Nem interessa se era pra ser ou não um relacionamento monogâmico. O fato é que a escolha de usar ou não preservativo era sua também!!! Se vc cedeu por carência, medo de ficar sozinha, ou acha que se deixou manipular de algum forma, assuma!!! E vá fazer terapia.
Exemplo rápido 2: Se eu topo sair com um cara que é conhecido por ser mulherengo, ou por ser baladeiro, ou por beber demais e se nas nossas conversas ele assume em si essas características, ou deixa claro que não quer compromisso sério e, ainda assim, eu topo, arrisco, vou em frente:
(a) faço essa escolha porque tenho a maturidade de lidar com esse perfil
ou
(b) porque intimamente acredito que posso "mudá-lo"?
Minha amiga, se vc respondeu à alternativa b, e  não bancou sua escolha, porque o querido não mudou, e quando acabou vc se sentiu, rejeitada, frustrada, abandonada, com seu coração dilacerado, com raiva de todos os homens do mundo e então resolveu vomitar sua dor nos movimentos virtuais, culpando o ex por todo seu sofrimento, um recado: não faça! Se não foi forçada à nada, violentada ou abusada, física, sexual ou psicologicamente, não faça!
Assuma a porra da sua parcela de responsabilidade nessa historia,  no momento em que optou por se enganar achando que seria capaz de mudar alguém. Não invada espaços tão válidos e importantes para se vitimizar e expor sua carência e frustração, existem outras formas de chamar a atenção. Resolva seus problemas com o ex-querido. Vomite suas dores na cara dele, seja mulher de encarar o fim sabendo que parte desse fim diz respeito à vc também. Não espalhe seu rancor prejudicando, atacando e difamando. Se quer mesmo espalhar alguma coisa, que seja amor...seja maior, seja superior. Porque de dores esse mundo já está atolado.