Se me pareceu tão claro que a percepção policrônica do tempo me soa tão mais leve, feliz, agradável por que então, carrego essa intolerância em relação à horários e atrasos? Sou do tipo que, se a reunião está marcada pras 9h e as 9h30 não começou tenho ganas de ir embora. Meu argumento pra essa inflexibilidade? O valor do tempo. E pensando sobre isso, conclui que sou uma contradição...caminho em cima do muro entre o tempo linear e o natural.
Por exemplo: até o dia de hoje, o que tenho acreditado é que aquele que marca um horário e não cumpre não tem respeito pelo tempo do outro, acredita que o seu próprio tempo é mais valioso e portanto, não há problema em deixar alguém esperando...por outro lado, há anos optei por trabalhar de forma a não ter horários fixos, cumprindo as metas do dia de acordo com a tarefa para qual me sinto mais disposta no momento- é claro que existem prazos a serem cumpridos, e eu costumo fazê-lo, mas muitas vezes protelar é uma arte.
Também costumo dizer aos meus amigos que ainda vivem na agitação das grandes cidades, que o tempo que economizo no dia a dia, para me deslocar de um lugar a outro, por exemplo, de bike, sem nenhum tipo de trânsito (aqui em Cananéia sequer tem semáforo!) pode ser aproveitado de "n" outras formas, e isso me faz mais feliz. Mas, quando esses mesmos amigos estão aqui nos finais de semana e desprendem-se dos seus relógios, ainda me irrito quando um dele me diz: "ah, já to saindo" , e ao invés de estar efetivamente saindo a caminho de me encontrar, está naturalmente saindo, como um processo e não um ato, um processo que implica, sei lá...escovar os dentes, trocar de roupa, por o cachorro pra fora, pegar a bike, fechar a casa...e sair.
E nessa corda bamba entre contabilizar ou vivenciar o tempo, cá estou. Se bastasse escolher entre uma percepção ou outra, resposta fácil: fico com o tempo, biólogico, natural - o que me diz porque ainda sofro com o horário de verão. Porém, acredito que não é possível uma única escolha entre um ou outro. São várias delas, ao longo do dia, ao longo da vida, um exercício diário de optar por aquilo que nos faz mais feliz, mais leves e tranquilos.
Escolher trabalhar com o que se gosta, percorrer os caminhos mais bonitos ao invés dos mais curtos, preparar, no seu tempo, sua refeições e saboreá-la com calma e prazer, ao invés de comer um sanduíche rápido no boteco da esquina...
Escolher tornar-se consciente da real relatividade do tempo e aproveitar cada minuto, que passa como milésimos de segundo, quando estamos felizes, ao invés de sofrer com esse mesmo minuto, que parece uma hora, fazendo algo que não gostamos.
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