terça-feira, 7 de outubro de 2008

coisas antigas

os últimos poemas postados e, provavelmente, os próximos que virão são bem antigos, escritos de 1997 pra trás...ainda não tinha nem entrado na faculdade...vale notar que os cinco anos de UNESP em Botucatu foram anos de poucos escritos...
Hoje em dia não gosto muito dessas poesias antigas, prefiro o que tem nascido hoje, mas ainda assim vale o registro...

Jul/96

Porque nasceste de mim
Perdido na intimidade de meu toque
Porque cresceste para o mundo
Fugindo para longe de minh’alma
Porque partiste sem rumo
No trem solitário do destino
Porque te amo tanto
Ainda que me abandones a cada minuto
Levo-te no peito sangrando um coração sombrio e mudo

à la Vinicius

Resta-me uma incapacidade de sentir
O vazio penetrando por meus poros
Resta esse indizível pesar
Essa angustia diante do próximo instante
O próximo ato
Trará ou não uma dor maior?
Resta essa tristeza tímida
Que cresce aos poucos
Sonha em tomar minh’alma
E junto a ela
Essa pequenina luz, que brilha pálida
E a qual eu me esforço para ter como esperança
Resta essa incapacidade de saber o que tomar por verdade
Esse desejo de querer conhecer a tudo e a todos
E abandonar a mim mesma.

Set/96

trilhos urbanos

Sobre os trilhos urbanos
De uma cidade em caos
Milhares de rostos desfilam perdidos
A cada minuto
Rostos simples
Com esperanças vazias
Cheios de dor
Transbordando na alma
A insana alegria
Do pequeno amor à vida.
Sobre os trilhos urbanos
De uma cidade em chamas
Milhares de rostos se perdem
Se amam
Se odeiam
Se perdem na alegria digna de seus sucessos
Se amam na intolerância cega de seus temores
Se odeiam,
Mortos,
No inferno de seus fracassos.

1995

Cananéia

Tuas ruas claras
Tua beleza rara
Teus dias de sol acompanham-me.
No cotidiano da metrópole
Na frieza dos prédios de apartamentos
Tua paz me acompanha.
Acompanham-me tuas pedras irregulares
Tua despojada igreja
Teus coqueiros e paisagens.
A tua história acompanha-me.
Confunde-se com a minha.
E nesse misto de saudade e desejo
De passado e mistério
Entrego-te minha vida
Para que eu possa, enfim
Amanhecer em paz.

1995

Maioridade

A alegria do dezoito anos
Transmite a ti uma pequena paz
Talvez um sossego ou um desengano
De que a vida pudesse ser-te mais

Quem sabe agora ao esboçar teus planos
Construas apenas sonhos frugais
Quem sabe agora o que a vida te traz
É um amor, um caminho plano

Desejo a ti a alegria infinita
Uma luz brilhando em todo teu viver
O desabrochar da rosa tímida

Que após liberta te fará crescer
Que tua noite nunca seja pálida
E tua vida um eterno alvorecer
Mai/97

quem sabe?

Quem sabe a morte
Restabeleça-me a consciência
Quem sabe a dor
Crie em mim a alegria
Quem sabe a guerra
Me ensine a conquistar a paz.
Nov/97

ago/97

Às vezes sinto que escrevo
Do mesmo modo que respiro
Escrevo como se fosse natural e simples
Rabiscar símbolos e imprimir pensamentos
Em uma folha em branco.
Escrevo como se caminhasse pelo mundo
E deixasse marcadas as minhas pegadas
Pelas estradas percorridas
As palavras aparecem sem ser notadas
Tal e qual as minhas pegadas.
E vão se deixando ficar para trás
Como o meu rastro na areia
Esperando que venha o vento
E as desfaça

nov/97

Cada gota de chuva que se desfaz sobre a cidade
Destrói minhas ilusões
Entristece minha alma
Faz-me sentir a consciência se esvaindo
Esfria-me os pensamentos
Cada gota de chuva que insiste em cair sobre a cidade
Rouba-me o calor do sol
Perde-me
Cada gota de chuva que se desfaz sobre mim

Soneto no. 1

Quem és tu que surgiste assim do nada
E roubaste meu coração vadio?
De uma forma simples,insuspeitada
E partiste deixando-me o vazio?

Quem és tu, que me queres como amada
Durante a solidão de um dia frio?
E depois me deixas abandonada
Às ilusões que a todo instante eu crio

Quem és? Que diz me amar a todo custo
Sem ao menos saber o que é amar
Diga-me apenas se é a ti que busco

Ou quanto ainda devo procurar
Diga que me ama, sem medos, sem sustos
Para que eu possa enfim me entregar.

Set/97